quarta-feira, 8 de julho de 2009

Justiça do DF condena ex-médico a 30 anos de prisão

O GLOBO

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Depois de um julgamento que durou quase dezoito horas, a Justiça do Distrito Federal condenou nesta madrugada o ex-médico Marcelo Caron a 29 anos de prisão em regime fechado e um ano em regime aberto pelas mortes de Adcélia Martins e Grasiela Murta, que fizeram lipoapiração em 2002 e morreram em seguida. Ele foi condenado por homicídio doloso qualificado, omissão de socorro e exercício ilegal da medicina. Para os jurados, o ex-médico assumiu o risco de matar as pacientes. Apesar da sentença, Marcelo Caron não saiu do fórum para a prisão, porque ele respondeu o processo em liberdade e compareceu a todos os atos. O ex-médico terá este direito até que seja julgado o último recurso.

O julgamento começou às 10h de terça no Tribunal do Júri de Taguatinga, no Distrito Federal. Todas as dez testemunhas foram ouvidas. O ex-médico, que teria falsificado o certificado de especialização em cirurgia plástica, também depôs. Ele alegou que já fez mais de duas mil cirurgias bem-sucedidas e que as mortes de Adcélia e Grasiela foram fatalidades, decorrentes do risco de qualquer operação.

Durante o depoimento das testemunhas de acusação, a mãe e a irmã de Grasiela afirmaram que o ex-médico se recusou a atender a paciente, quando foi acionado pela família. Segundo os testemunhos, ele disse que não poderia deixar a cidade de Goiânia, onde residia, porque precisava cuidar de seus cavalos. Elas afirmaram, ainda, que Caron disse que as reclamações da moça eram "manha de filha caçula". Grasiela faleceu por infecção generalizada, um mês depois de ter sido operada por Caron.

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Mortes e deformidades

Em Goiânia, em abril deste ano, Caron foi condenado a oito anos de reclusão, em regime aberto, pela morte de outra paciente, a advogada Janet Virgínia Novais Falleiro. Ele ainda terá de pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais à família da vítima. Ele também foi condenado a três anos por uso de diploma falso em cirurgia plástica.

Janet morreu em 5 de janeiro de 2001, no Hospital e Maternidade Vida, devido a complicações resultantes de uma cirurgia de lipoaspiração feita com Caron, que atualmente mora em São José do Rio Preto (SP), onde cursa Direito. Ela foi a segunda paciente a morrer em decorrência de complicações após cirurgia feita por Caron. Concunhada do médico, Janet teve o intestino perfurado e morreu nove dias após a lipoaspiração. Antes dela, em março de 2000, morreram Vera Lúcia Teodoro Batista de Oliveira, que havia se submetido a lipoaspiração no abdome e plástica nos seios, e a oficial de justiça Flávia de Oliveira Rosa, em março de 2001.

Em Goiás, para atuar em clínicas particulares, Caron apresentava um longo currículo com cursos e participações em congressos internacionais. Ele atendia no interior do estado pelo menos uma vez por semana e sua chegada era anunciada em carros de som pelas ruas das cidades. Ele atraia as pacientes com bom preço e simpatia.

Caron trabalhou por 10 anos em Goiás. Depois das três mortes no estado, as de Janet, Vera Lúcia e Flávia, ele se mudou para Brasília, onde continuou a clinicar e operou outras pacientes. Duas delas, Adcélia Martins Souza e Grasiela Murta de Oliveira, de 26 anos, também morreram em decorrência de complicações pós-operatórias.

Grasiela fez lipoaspiração e, uma semana depois, foi internada na UTI de um hospital de Brasília com infecção generalizada. Ela morreu depois de ter tido pneumonia, insuficiência renal aguda, choque por queda de pressão e acidente vascular cerebral. Apesar de Caron afirmar que Grasiela teve infecção depois de ir para casa, o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) confirmou que a estudante foi infectada durante a operação.

Cirurgião sem diploma de especialização, e com o registro de médico cassado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), Caron é acusado ainda de causar mutilações em mulheres submetidas a cirurgias, como auréolas dos seios fora do lugar, formato desproporcional dos seios e cortes que resultaram em deformidades.

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