

MATÉRIA DO JORNAL O DIA ON LINE
Ele era acusado de ter ligações com a milícia em Jacarepaguá
Bartolomeu Brito, Tiago Praddo e Vânia Cunha
Rio - O ex-vereador do DEM Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, foi assassinado na tarde desta quarta-feira no condomínio Rio II, na Avenida Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca, Zona Oeste.
De acordo com testemunhas, Nadinho sofreu uma emboscada na entrada do prédio de número 115, chamado Residente Provence. Um homem encapuzado em um Audi A8 com a cobertura de outros comparsas em veículo não identificado executou vários disparos.
Segundo o comandante do 18° BPM (Jacarepaguá), tenente-coronel Luiggi Gatto, Nadinho estava na área comum do condomínio, próximo ao restaurante do prédio e da piscina, quando foi atingido por vários tiros de pistola 9 mm, inclusive no rosto.
Nadinho estava acompanhado de seu segurança pessoal, um soldado do 4° BPM (São Cristóvao), que também foi baleado e levado para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra. Apesar do tiro que levou no peito, o agente passa bem e não corre risco de morrer.
Sem proteção
O advogado do ex-vereador, Edson Pontes, estava no local e afirmou que Nadinho deveria contar com proteção integral. Segundo o magistrado só havia escolta quando o político saía de casa, mas nenhuma viatura ficava a postos na frente da casa de Nadinho.
O Estado deveria estar dando segurança a ele. Ainda mais porque ele vinha sendo ameaçado frequentemente", reclamou Pontes.
Envolvimento com milícia
Nadinho era acusado de ter ligações com a milícia em Rio das Pedras, Jacarepaguá. Ele chegou a ser preso em 26 de novembro de 2007, acusado de mandar matar o inspetor da Polícia Civil Félix dos Santos Tostes em 22 de fevereiro de 2007.
O policial chefiava a milícia de Rio das Pedras e teria sido morto na guerra pelo controle da região. Félix foi executado por três homens que fizeram mais de 40 disparos contra o carro dele, no Recreio dos Bandeirantes. Segundo a polícia, ele estaria disposto a se candidatar a vereador para disputar poder com Nadinho.
Nas últimas eleições, Nadinho não se reelegeu, apesar dos 16.838 que recebeu. Ele é um dos citados no relatório final da CPI das Milícias da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, do ano passado.
Em dezembro de 2008, Nadinho sofreu um atentando, sendo baleado na barriga e na perna.
Na ocasião Nadinho concedeu entrevista exclusiva a O DIA. Relembre:
—Como foi no dia do crime? Você pressentiu que seria emboscado?
—Estava retornando de uma pelada na Barra da Tijuca e um amigo da comunidade ligou avisando que tinha algo errado, que a milícia toda estava lá e havia um estranho no meu portão. Cheguei, parei o carro e bati os olhos no cara. Vi um outro também e enrolei alguns minutos na rua. Eles sumiram e pensei: ‘Tem algo errado realmente aqui, mas não é pra mim’. Me enganei.
—Os homens retornaram?
—Eles estavam parados em um bar. Um deles veio na minha direção. Parei, olhei dentro dos olhos dele e falei: ‘Eu sou vereador’. Achei que poderia assustá-lo. Ele sacou a arma da cintura, era um revólver prateado. Não dava para entrar em casa, meu portão estava trancado. Pensei: vou correr para longe. Eles vão me matar.
—Os tiros o acertaram em que momento?
—Logo que virei para correr senti uma ardência no peito. Corri em direção à praça, que estava cheia e achei que ele não iria continuar atirando. Ele me acertou na perna e quase caí. Acho que, se tivesse caído, ele teria me alcançado e estaria morto. Continuei correndo em zigue-zague e ele, atirando. Sumi por dentro dos becos e fiquei escondido, esperando os homens irem embora.
—Quanto tempo passou escondido?
—Uns 20 minutos fiquei nesta tensão. Chegou uma hora em que estava perdendo sangue e senti as pernas fraquejando. Tentei subir uma escada e caí. As pessoas queriam me ajudar, mas pedi para elas irem embora. Temia que a aglomeração chamasse a atenção dos matadores. Temi que o rastro de sangue guiasse os criminoso. Quando vi a moto passando com eles, só sai do beco para pedir ajuda.
—Quem te salvou?
—Acho que Deus estava comigo. Não larguei meu rádio e fiz contato com a minha mulher. Avisei que tinha sido baleado e iria para o hospital. E fui fazendo contato. Fui para a rua principal e parei dois carros, mas eles aceleraram. Só o terceiro me socorreu. Na hora ainda tive o cuidado de pedir para que me levassem ao Hospital de Jacarepaguá. Achei que os matadores estivesse de tocaia no caminho esperando eu ir para Hospital Lourenço Jorge (na Barra da Tijuca).
—A milícia de Rio das Pedras está por trás do atentado?
—Não só do meu, como também no da Socorro (Maria do Socorro Barbosa, viúva do inspetor Félix Tostes). Hoje somos dois embaraços para a milícia. Pelo que fiquei sabendo que a Socorro não estava recebendo a pensão que tinha direito nos negócios da milícia de lá e cobrava o débito.
—Qual a razão para a milícia querer matá-lo?
—Eles sabem que eu denuncio a ação deles na comunidade. Tornei-me uma pedra no sapato deles. Eles sabem que serão presos e tentam eliminar quem ajuda a lei. E sei que eles vão tentar me matar novamente. Eles vão continuar tentando. Não vai ter sossego. Espero que a polícia seja mais rápida e que prenda logo os culpados. Nasci de novo e não sei se terei uma nova chance.
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