O DIA por Leslie Leitão e Paula Sarapu
Academia e espadas na casa de Nem
Trezentos policiais civis ocupam Rocinha, trocam tiros com bandidos, encontram 20 quilos de cocaína pura e estouram refinaria. Droga apreendida renderia R$ 1,2 milhão à quadrilha
Na Cachopa, agentes encontraram uma das casas do chefe do tráfico local, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, onde havia até uma pequena academia de ginástica. Duas espadas foram encontradas no imóvel. Mais duas armas semelhantes foram apreendidas em outra localidade.
Munição, duas escopetas, duas granadas e metralhadora também foram recolhidas. Num dos endereços, havia uma máquina de contar dinheiro e dois ‘cofres-tomada’ — peça que é embutida na parede e deixa apenas o interruptor visível, camuflando o cofre.
A Polícia Civil aplicou ontem mais um golpe nas finanças do tráfico da Rocinha. Enquanto agentes da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) apreenderam 20 quilos de cocaína pura em uma casa na parte baixa da favela, policiais da 15ª DP (Gávea) estouraram um laboratório para mistura da droga na localidade do Terreirão, no alto do morro. Segundo o delegado Marcus Vinícius Braga, da Dcod, o pó ainda seria misturado e poderia render até R$ 1,2 milhão à quadrilha.
Na chegada dos cerca de 300 policiais de 29 delegacias, pouco após as 6h, bandidos já estavam de prontidão na localidade Roupa Suja, de onde atiraram e lançaram granadas sobre a Autoestrada Lagoa-Barra. O trânsito nas duas pistas da via ficou fechado por 10 minutos. Por causa do confronto, as aulas foram suspensas em três escolas e uma creche, prejudicando 2.300 alunos. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não foram interrompidas.
Investigações mostram que cada quilo da droga apreendida foi comprado em São Paulo por cerca de R$ 120 mil. Depois de misturada, essa quantidade poderia ficar seis vezes maior. “Essa droga seria consumida em 10 dias nas bocas de fumo da Rocinha. É sempre importante batermos no bolso deles, pois com esse dinheiro eles se fortalecem com a compra de armas para as guerras que aterrorizam a população”, afirmou Marcus Vinícius.
No alto do morro, a 15ª DP estourou o quarto laboratório para refino de cocaína dentro da Rocinha em dois anos. Na casa de três quartos e varanda com ampla visão para a favela, havia material para misturar e secar a droga, como bacias, liquidificadores, peneiras e oito holofotes. Os traficantes também mantinham uma reserva de lâmpadas específicas, luvas para manuseio da droga e balões de festa que serviam para vedar e lacrar a cocaína.
No outro quarto havia um forno com botijão e uma prensa de cerca de 200 quilos, que precisou ser içada pelo helicóptero da polícia. De acordo com a delegada Bárbara Lomba, da 15ª DP, o laboratório passou a funcionar depois que outro foi estourado pela unidade, em março. “A movimentação financeira apenas nesta refinaria seria de R$ 500 mil por mês”, estimou a delegada.
Relógios de luxo e carros roubados
Na casa de um dos ‘homens de guerra’ de Nem, Jorge Luiz de Oliveira, o Jorginho PQD, policiais encontraram quatro relógios de marcas de luxo. A polícia investiga se eles pertenceriam a joalheria da Barra da Tijuca, de onde foram roubados cerca de R$ 1 milhão, sendo R$ 700 mil só em relógios. Na ação, também foram recuperadas 10 motos e cinco carros roubados, entre eles um Peugeot 307, de um bandido conhecido como Thiago Pateta ou Leão, e uma Pajero, que era usada por Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, do São Carlos.
Segundo o titular da Dcod, Roupinol e pelo menos outros 10 chefões da facção Amigos dos Amigos (ADA) estão abrigados na Rocinha.
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