segunda-feira, 29 de junho de 2009

Lula teme que golpe em Honduras abra precedente: 'Daqui a pouco vira moda'

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou nesta segunda-feira-feira o golpe de Estado em Honduras, afirmou que não reconhecerá outro governo que não seja o do presidente deposto José Manuel Zelaya e advertiu que o episódio pode abrir um precedente. Zelaya foi expulso do poder pelo Exército, na noite de domingo, depois de a Suprema Corte ordenar a ação, devido à insistência do líder em realizar um plebiscito para reformar a Constituição do país e tornar possível sua reeleição.

Zelaya: 'Encapuzados e com rifles, disseram que iam me assassinar'

- Não podemos permitir que em pleno século XXI na América Latina haja um golpe militar. É inaceitável. Não podemos reconhecer o novo governo. Temos que exigir a volta do governo eleito democraticamente. Senão daqui a pouco vira moda outra vez - disse Lula ao deixar o Palácio do Itamaraty.

Segundo o presidente, os países da região estão de acordo que não é possível aceitar a situação.

- Penso que todos os países da América do Sul, da América Latina, Estados Unidos e México estão de acordo que não é possível aceitar isso. A OEA também não aceita. É preciso o isolamento de Honduras enquanto não houver um presidente eleito democraticamente, disse.

O Exército de Honduras deteve Zelaya em sua residência e o levou contra a sua vontade para a Costa Rica. Os militares têm o apoio de setores políticos contrários ao projeto de reeleição do presidente.

- O presidente queria fazer um referendo. O que o referendo tem de criminoso? Só o medo de ouvir a vontade do povo (...) Não importa que tenha divergência interna. Divergência se resolve com debate democrático. O que não pode é golpe militar ( Clique aqui e entenda a crise em Honduras ).

O presidente já havia feito críticas à situação em Honduras mais cedo, durante o programa semanal "Café com o Presidente". Lula disse, entre outras coisa, que não vai reconhecer o novo governo, declarado na noite de domingo .

Ouça o programa "Café com o Presidente"


- Não tem contemporização, não tem meio termo, nós temos que condenar este golpe (...) Zelaya ganhou as eleições. Portanto, ele deve retornar à presidência de Honduras. É a única condição para que a gente possa estabelecer relações com Honduras. E portanto, se Honduras não rever a posição, vai ficar totalmente ilhado no meio de um contingente enorme de países democráticos.

( Veja as imagens dos protestos )

Países da Alba retirarão embaixadores de Honduras

Além de Lula, várias outras autoridades internacionais manifestaram repúdio ao golpe de Estado, entre elas o presidente americano Barack Obama. Em entrevista coletiva concedida junto ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, o líder americano disse que o golpe em Honduras foi "ilegal".

- Manuel Zelaya continua sendo o chefe de Estado legítimo deste país - disse.

Em protesto à deposição de Zelaya do poder, os países latino-americanos que integram o grupo de esquerda Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) disseram nesta segunda-feira que irão retirar seus embaixadores de Honduras.

- Os países membros da Alba decidiram retirar os embaixadores e deixar em sua expressão mínima nossa representação diplomática em Tegucigalpa até que o governo legítimo do presidente Manuel Zelaya seja restituído plenamente em suas funções - disse o chanceler do Equador, Fander Falconi, lendo as conclusões de uma reunião do grupo.

Estiveram presentes à reunião na Nicarágua o presidente da Venezuela, Hugo Chávez; o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega; o presidente do Equador, Rafael Correa, e o boliviano Evo Morales, além do próprio Zelaya.

Fidel Castro também condena golpe

Horas após a posse do novo presidente hondurenho, o ex-líder de Cuba Fidel Castro pediu que não se negocie com os militares que derrubaram Zelaya e exigiu a renúncia deles. Em um texto publicado por volta da meia-noite de domingo na página oficial da internet cubadebate.cu, Castro recomendou não ceder nenhum milímetro ante os militares e setores da oposição que apoiaram o golpe contra Zelaya para abortar seus planos de buscar a reeleição.

"Com esse alto comando golpista não se pode negociar, é preciso exigir sua renúncia e que outros oficiais mais jovens e não comprometidos com a oligarquia ocupem o comando militar, ou não haverá jamais um governo 'do povo, pelo povo, para o povo' em Honduras", escreveu. "Os golpistas, encurralados e isolados, não têm salvação possível se se enfrenta com firmeza o problema", acrescentou.

Castro, 82 anos, está distanciado do poder desde que ficou doente há quase três anos. O governo que preside seu irmão Raúl Castro condenou no domingo o golpe contra Zelaya, qualificando-o de brutal.

"A época das ditaduras militares na América Latina já passou", havia dito mais cedo o chanceler cubano Bruno Rodríguez.

Fidel Castro recorda em seu texto que os golpistas não contam com o respaldo dos Estados Unidos, que apoiou muitos golpes de Estado na América Central durante a guerra fria.

"Até a senhora (Secretária de Estado dos EUA, Hillary) Clinton declarou já em horas da tarde que Zelaya é o único presidente de Honduras, e os golpistas hondurenhos nem sequer respiram sem o apoio dos Estados Unidos", escreveu.

Na noite de domingo, parlamentares de Honduras deram posse ao cargo de presidente do país o chefe do Congresso, Roberto Micheletti, após aprovarem a deposição de Zelaya. O presidente, que foi levado para a Costa Rica, por sua parte, descartou a versão de sua renúncia, afirmando que o Congresso está por trás de "uma conspiração política com apoio militar". Micheletti deve permanecer no cargo até 27 de janeiro de 2010, quando terminaria o mandato original de quatro anos do presidente deposto.

Em sua primeira medida, o novo presidente decretou toque de recolher para as noites de domingo e desta segunda-feira no país. Apesar disso, manifestantes pró Zelaya, alguns deles mascarados e armados com bastões, tomaram algumas ruas da capital e fecharam o acesso ao palácio presidencial.


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